RELIGIÃO

Conceito de família
  
  A família representa um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas, ou um número de grupos domésticos ligados por descendência (demonstrada ou estipulada) a partir de um ancestralcomum, matrimónio ou adoção.
      Nesse sentido o termo confunde-se com clã. Dentro de uma família existe sempre algum grau de parentesco. Membros de uma família costumam compartilhar do mesmo sobrenome, herdado dos ascendentes diretos. A família é unida por múltiplos laços capazes de manter os membros moralmente, materialmente e reciprocamente durante uma vida e durante as gerações.
     Podemos então, definir família como um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a interação dos membros da mesma, considerando-a, igualmente, como um sistema, que opera através de padrões transacionais. Assim, no interior da família, os indivíduos podem constituir subsistemas, podendo estes ser formados pela geraçãosexo, interesse e/ ou função, havendo diferentes níveis de poder, e onde os comportamentos de um membro afetam e influenciam os outros membros. A família como unidade social, enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento, diferindo no nível dos  parâmetros culturais, mas possuindo as mesmas raízes universais (MINUCHIN,1990).

Estruturas familiares
     A família assume uma estrutura característica. Por estrutura entende-se, “uma forma de organização ou disposição de um número de componentes que se inter-relacionam de maneira específica e recorrente” (WHALEY e WONG, 1989; p. 21). Deste modo, a estrutura familiar compõe-se de um conjunto de indivíduos com condições e em posições, socialmente reconhecidas, e com uma interacção regular e recorrente também ela, socialmente aprovada. A família pode então, assumir uma estrutura nuclear ou conjugal, que consiste em duas pessoas adultas (tradicionalmente uma mulher e um homem) e nos seus filhos, biológicos ou adotados, habitando num ambiente familiar comum. A estrutura nuclear tem uma grande capacidade de adaptação, reformulando a sua constituição, quando necessário.
     Existem também famílias com uma estrutura de pais únicos ou monoparental, tratando-se de uma variação da estrutura nuclear tradicional devido a fenómenos sociais, como o divórcio, óbito, abandono de lar, ilegitimidade ou adopção de crianças por uma só pessoa.
     A família ampliada ou extensa (também dita consanguínea) é uma estrutura mais ampla, que consiste na família nuclear, mais os parentes directos ou colaterais, existindo uma extensão das relações entre pais e filhos para avós, pais e netos.
     Para além destas estruturas, existem também as por vezes denominadas de famílias alternativas, estando entre estas as famílias comunitárias e as famílias arco-íris, as constituídas por pessoas LGBT - lésbicas, gays, bissexuais ou transgéneros - e os seus filhos.
     As famílias comunitárias, ao contrário dos sistemas familiares tradicionais, onde a total responsabilidade pela criação e educação das crianças se cinge aos pais e à escola, nestas famílias, o papel dos pais é descentralizado, sendo as crianças da responsabilidade de todos os membros adultos.
     Quanto ao tipo de relações pessoais que se apresentam numa família, LÉVI-STRAUSS (cit. por PINHEIRO, 1999), refere três tipos de relação. São elas, a de aliança (casal), a de filiação (pais e filhos) e a de consanguinidade (irmãos). É nesta relação de parentesco, de pessoas que se vinculam pelo casamento ou por uniões sexuais, que se geram os filhos.
     Segundo ATKINSON e MURRAY (cit. por VARA, 1996), a família é um sistema social uno, composto por um grupo de indivíduos, cada um com um papel atribuído, e embora diferenciados, consubstanciam o funcionamento do sistema como um todo. O conceito de família, ao ser abordado, evoca obrigatoriamente, os conceitos de papéis e funções, como se têm vindo a verificar.
Em todas as famílias, independentemente da sociedade, cada membro ocupa determinada posição ou tem determinado estatuto, como por exemplo, marido, mulher, filho ou irmão, sendo orientados por papéis.     Papéis estes, que não são mais do que, “as expectativas de comportamento, de obrigações e de direitos que estão associados a uma dada posição na família ou no grupo social” (DUVALL ; MILLER cit. por STANHOPE, 1999; p. 502).
     Assim sendo, e começando pelos adultos na família, os seus papéis variam muito, tendo NYE (cit. por STANHOPE, 1999) considerado como característicos os seguintes: a “socialização da criança”, relacionado com as actividades contribuintes para o desenvolvimento das capacidades mentais e sociais da criança; os “cuidados às crianças”, tanto físicos como emocionais, perspectivando o seu desenvolvimento saudável; o “papel de suporte familiar”, que inclui a produção e/ ou obtenção de bens e serviços necessários à família; o “papel de encarregados dos assuntos domésticos”, onde estão incluídos os serviços domésticos, que visam o prazer e o conforto dos membros da família; o “papel de manutenção das relações familiares”, relacionado com a manutenção do contacto com parentes e implicando a ajuda em situações de crise; os “papéis sexuais”, relacionado com as relações sexuais entre ambos os parceiros; o “papel terapêutico”, que implica a ajuda e apoio emocional aquando dos problemas familiares; o “papel recreativo”, relacionado com o proporcionar divertimentos à família, visando o relaxamento e desenvolvimento pessoal.
     Relativamente aos papéis dos irmãos, estes são promotores e receptores, em simultâneo, do processo de socialização na família, ajudando a estabelecer e manter as normas, promovendo o desenvolvimento da cultura familiar. “Contribuem para a formação da identidade uns dos outros servindo de defensores e protectores, interpretando o mundo exterior, ensinando os outros sobre equidade, formando alianças, discutindo, negociando e ajustando mutuamente os comportamentos uns dos outros” (Idem; p. 502). Há a salientar, relativamente aos papéis atribuídos que, será ideal que exista alguma flexibilidade, assim como, a possibilidade de troca ocasional desses mesmos papéis, aquando, por exemplo, um dos membros não possa desempenhar o seu (SOARES, 2003).

Funções de família
     Como os papéis, as funções estão igualmente implícitas nas famílias, como já foi referido. As famílias como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem ou renunciam funções de proteção e socialização dos seus membros, como resposta às necessidades da sociedade pertencente. Nesta perspectiva, as funções da família regem-se por dois objectivos, sendo um de nível interno, como a protecção psicossocial dos membros, e o outro de nível externo, como a acomodação a uma cultura e sua transmissão. A família deve então, responder às mudanças externas e internas de modo a atender às novas circunstâncias sem, no entanto, perder a continuidade, proporcionando sempre um esquema de referência para os seus membros (MINUCHIN, 1990). Existe consequentemente, uma dupla responsabilidade, isto é, a de dar resposta às necessidades quer dos seus membros, quer da sociedade (STANHOPE, 1999).
     DUVALL e MILLER (cit. por Idem) identificaram como funções familiares, as seguintes: “geradora de afecto”, entre os membros da família; “proporcionadora de segurança e aceitação pessoal”, promovendo um desenvolvimento pessoal natural; “proporcionadora de satisfação e sentimento de utilidade”, através das actividades que satisfazem os membros da família; “asseguradora da continuidade das relações”, proporcionando relações duradouras entre os familiares; “proporcionadora de estabilidade e socialização”, assegurando a continuidade da cultura da sociedade correspondente;“impositora da autoridade e do sentimento do que é correcto”, relacionado com a aprendizagem das regras e normas, direitos e obrigações características das sociedades humanas. Para além destas funções, STANHOPE (1999) acrescenta ainda uma função relativa à saúde, na medida, em que a família protege a saúde dos seus membros, dando apoio e resposta às necessidades básicas em situações de doença. “A família, como uma unidade, desenvolve um sistema de valores, crenças e atitudes face à saúde e doença que são expressas e demonstradas através dos comportamentos de saúde-doença dos seus membros (estado de saúde da família)” (Idem; p. 503).
     Para SERRA (1999), a família tem como função primordial a de protecção, tendo sobretudo, potencialidades para dar apoio emocional para a resolução de problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões externas. FALLON [et al.] (cit. por Idem) reforça ainda que, a família ajuda a manter a saúde física e mental do indivíduo, por constituir o maior recurso natural para lidar com situações potenciadoras de stress associadas à vida na comunidade.
     Relativamente à criança, a necessidade mais básica da mesma, remete-se para a figura materna, que a alimenta, protege e ensina, assim como cria um apego individual seguro, contribuindo para um bom desenvolvimento da família e consequentemente para um bom desenvolvimento da criança. A família é então, para a criança, um grupo significativo de pessoas, de apoio, como os pais, os pais adoptivos, os tutores, os irmãos, entre outros. Assim, a criança assume um lugar relevante na unidade familiar, onde se sente segura. A nível do processo de socialização a família assume, igualmente, um papel muito importante, já que é ela que modela e programa o comportamento e o sentido de identidade da criança. Ao crescerem juntas, família e criança, promovem a acomodação da família às necessidades da criança, delimitando áreas de autonomia, que a criança experiencia como separação.
     A família tem também, um papel essencial para com a criança, que é o da afectividade, tal como já foi referido. Para MCHAFFIE (cit. por PINHEIRO, 1999), a sua importância é primordial pois considera o alimento afectivo tão imprescindível, como os nutrientes orgânicos. “Sem o afecto de um adulto, o ser humano enquanto criança não desenvolve a sua capacidade de confiar e de se relacionar com o outro” (Idem; p. 30).
     Deste modo, “(...) a família constitui o primeiro, o mais fundante e o mais importante grupo social de toda a pessoa, bem como o seu quadro de referência, estabelecido através das relações e identificações que a criança criou durante o desenvolvimento” (VARA, 1996; p. 8), tornando-a na matrizda identidade.
Conceito histórico de família
     O termo “família” é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”. Este termo foi criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e também escravidão legalizada.
     No direito romano clássico a "família natural" cresce de importância - esta família é baseada no casamento e no vínculo de sangue. A família natural é o agrupamento constituído apenas dos cônjuges e de seus filhos. A família natural tem por base o casamento e as relações jurídicas dele resultantes, entre os cônjuges, e pais e filhos.[1] Se nesta época predominava uma estrutura familiar patriarcal em que um vasto leque de pessoas se encontrava sob a autoridade do mesmo chefe, nos tempos medievais (Idade Média), as pessoas começaram a estar ligadas por vínculos matrimoniais, formando novas famílias. Dessas novas famílias fazia também parte a descendência gerada que, assim, tinha duas famílias, a paterna e a materna.
     Com a Revolução Francesa surgiram os casamentos laicos no Ocidente e, com a Revolução Industrial, tornaram-se frequentes os movimentos migratórios para cidades maiores, construídas em redor dos complexos industriais. Estas mudanças demográficas originaram o estreitamento dos laços familiares e as pequenas famílias, num cenário similar ao que existe hoje em dia. As mulheres saem de casa, integrando a população activa, e a educação dos filhos é partilhada com as escolas. Os idosos deixam também de poder contar com o apoio directo dos familiares nos moldes pré-Revoluções Francesa e Industrial, sendo entregues aos cuidados de instituições de assistência (cf. MOREIRA, 2001). Na altura, a família era definida como um “agregado doméstico (…) composto por pessoas unidas por vínculos de aliança, consanguinidade ou outros laços sociais, podendo ser restrita ou alargada” (MOREIRA, 2001, p. 22). Nesta definição, nota-se a ambiguidade motivada pela transição entre o período anterior às revoluções, representada pelas referências à família alargada, com a tendência reducionista que começava a instalar-se reflectida pelos vínculos de aliança matrimonial.
      Na cultura ocidental, uma família é definida especificamente como um grupo de pessoas de mesmo sangue, ou unidas legalmente (como no casamento e na adoção). Muitos etnólogos argumentam que a noção de "sangue" como elemento de unificação familiar deve ser entendida metaforicamente; dizem que em muitas sociedades e culturas não-ocidentais a família é definida por outros conceitos que não "sangue". A família poderia assim se constituir de uma instituição normalizada por uma série de regulamentos de afiliação e aliança, aceitos pelos membros. Alguns destes regulamentos envolvem: a exogamia, a endogamia, o incesto, a monogamia, a poligamia, e a poliandria.
     A família vem-se transformando através dos tempos, acompanhando as mudanças religiosas, económicas e sócio-culturais do contexto em que se encontram inseridas. Esta é um espaço sócio-cultural que deve ser continuamente renovado e reconstruído; o conceito de próximo encontra-se realizado mais que em outro espaço social qualquer, e deve ser visto como um espaço político de natureza criativa e inspiradora.
     Assim, a família deverá ser encarada como um todo que integra contextos mais vastos como a comunidade em que se insere. De encontro a esta afirmação, [[JANOSIK e GREEN]], referem que a família é um “sistema de membros interdependentes que possuem dois atributos: comunidade dentro da família e interacção com outros membros” (STANHOPE, 1999, p. 492).

   Referências
1.      ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. Rio de Janeiro: Forense, 1977. II vol. n. 282.
2.      Oglobo Visitado em 20.11.2008.
3.      Jornal O Globo, 19.11.2008, pg. 36
Bibliografia
§  ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. Rio: Forense, 1977.
§  MINUCHIN, Salvador – Famílias: Funcionamento & Tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. p. 25-69.
§  SARACENO, Chiara – Sociologia da Família, Lisboa: Estampa, 1997.
§  STANHOPE, Marcia – Teorias e Desenvolvimento Familiar. In STANHOPE, Marcia ; LANCASTER, Jeanette – Enfermagem Comunitária: Promoção de Saúde de Grupos, Famílias e Indivíduos. 1.ª ed. Lisboa : Lusociência, 1999. ISBN 972-8383-05-3. p. 492-514.
§  Origem da família da propriedade privada e do estado.





História da Igreja Católica
     história da Igreja Católica cobre um período de aproximadamente dois mil anos,[1] e relata os eventos de uma das mais antigas instituições religiosas em atividade, influindo no mundo em aspectos espirituais, religiosos, morais, políticos e sócio-culturais. A história da Igreja Católica é integrante à História do Cristianismo e a história da civilização ocidental.
     A Igreja Católica acredita que ela "está na História, mas ao mesmo tempo transcende. É unicamente "com os olhos da " que se pode enxergar em sua realidade visível, ao mesmo tempo, uma realidade espiritual, portadora de vida divina".

Origem da Igreja
     A Igreja Católica acredita que a sua História remonta a Jesus Cristo e ao Apóstolo Pedro, a quem, segundo a doutrina católica, Cristo prometeu o Primado da Igreja fundada por Ele: "Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja". Os católicos acreditam também que Jesus entregou a São Pedro a autoridade suprema da Igreja: "Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus" (cf. Mt 16, 17-20). [4] [5] e que não fundou apenas uma religião - o Cristianismo - fundou também uma Igreja constituída sob a forma de uma comunidade visível de salvação, à qual os homens se incorporam pelo batismo.

Descrição: http://bits.wikimedia.org/skins-1.18/common/images/magnify-clip.png
O Pentecostes por El Greco
A constituição da Igreja consumou-se no dia de Pentecostes e, a partir de então, começa propriamente a sua história (ou seja, "cerca" do ano 30 d.c.). 

Universalidade
     O Cristianismo nasceu e desenvolveu-se dentro do quadro político-cultural do Império Romano. Os cristãos, inicialmente perseguidos pelo Sinédrio, depressa se desvincularam da Sinagoga, o cristianismo desde as suas origens, foi universal, aberto aos gentios, e estes foram declarados livres das prescrições da Lei Mosaica. O universalismo cristão manifestou-se desde os primórdios da Igreja em contraposição ao caráter nacional da religião judaica. Fugindo da perseguição em Jerusalém os discípulos de Jesus chegaram a Antioquia da Síria, uma das principais metrópoles do Oriente naquele tempo. Alguns destes discípulos eram de origem helênica, de mentalidade mais aberta que os judeus da palestina e começaram a anunciar o Evangelho aos gentios.
     Foi em Antioquia que o universalismo da Igreja mostrou-se concretamente uma realidade e foi nesta cidade que pela primeira vez os seguidores de Cristo começaram a ser chamados de cristãos. Nestes primeiros séculos a penetração cristã foi um fenômeno muito mais urbano que rural.

Perseguição e crescimento
     Durante três séculos o Império Romano perseguiu os cristãos, porque a sua religião era vista como uma ofensa ao estado, pois representava outro universalismo e proibia os fiéis de prestarem culto religioso ao soberano imperial. Durante a perseguição, e apesar dela, o cristianismo propagou-se pelo império. Neste período os únicos lugares relativamente seguros em que se podiam reunir eram as catacumbas, cemitérios subterrâneos. O cristianismo teve de se converter numa espécie de sociedade secreta, com os seus sinais convencionais de reconhecimento. Para saber se outra pessoa era cristã, por exemplo, desenhava-se um peixe , pois a palavra grega ichtys (peixe) era o anagrama da frase Iesos Christos Theou Hyios Soter (Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador). 
     As principais e maiores perseguições foram as de Nero, no século I, a de Décio no ano 250, a de Valeriano (253-260) e a maior, mais violenta e última a de Diocleciano entre 303 e 304, que tinha por objetivo declarado acabar com o cristianismo e a Igreja. O balanço final desta última perseguição constituiu-se num rotundo fracasso. Diocleciano, após ter renunciado, ainda viveu o bastante para ver os cristãos viverem em liberdade graças ao Édito de Milão, iniciando-se a Paz na Igreja..

Martírio de São Pedro, porCaravaggio.
     Os cristãos formaram comunidades locais, denominadas Igrejas, sob a autoridade pastoral de um bispo. O bispo de Roma, sucessor do apóstolo Pedro, exercia o Primado sobre todas as Igrejas. A vida cristã estava centralizada em torno da Eucaristia e o repúdio do Gnosticismo [10] foi a grande vitória doutrinal da primitiva Igreja. 
Primórdios da literatura cristã
     A primeira literatura cristã, a seguir o Novo Testamento, teve origem nos Padres Apostólicos, cujos escritos refletem a vida da Cristandade mais antiga. A apologética foi uma literatura de defesa da fé, ao passo que o século III viu já o nascimento de uma ciência teológica. Os escritos dos Padres Apostólicos são de índole pastoral e dirigem-se a um público cristão. Deste período destacam-se a Didaké, a carta de São Clemente aos Coríntios, as sete cartas de Santo Inácio de Antioquia a outras Igrejas, a epístola de Policarpo de Esmirna e o "Pastor de Hermas".
O Império Romano Cristão
     No decurso do século IV, o Cristianismo começou a ser tolerado pelo Império, para alcançar depois um estatuto de liberdade e converter-se finalmente, no tempo de Teodósio, em religião oficial do Estado. O imperador romano, por esta época, convocou as grandes assembléias dos bispos, os concílios, e a Igreja pôde então dar início à organização de suas estruturas territoriais.
     A igreja cristã na região do Mediterrâneo foi organizada sob cinco patriarcas, os bispos de JerusalémAntioquiaAlexandriaConstantinopla e Roma (veja Pentarquia). As antigas comunidades cristãs foram, então sucedidas pela "sociedade cristã", o cristianismo passou de religião das minorias para então se tornar em religião das multidões. Com a decadência do Império, os bispos pouco a pouco foram assumindo funções civis de caráter supletivo e a escolha do bispo passou a ser mais por escolha doclero do que pela pequena comunidade, segundo as fórmulas antigas. Por essa época não foram poucas as intervenções dos nobres e imperadores nas suas escolhas. Figuras expressivas da vida civil foram alçadas à condição de bispo, exemplo disto foram Santo Ambrósio, governador da Alta Itália que passou a bispo de MilãoSão Paulino de Nola, ex-cônsul e Sidônio Apolinário, genro do imperador Avito e senhor do Sul das Gálias, que foi eleito bispo de Clermont-Ferrand.
     Antes de findar o século IV o Primeiro Concílio de Niceia (325) e o Primeiro Concílio de Constantinopla, em respostas às heresias arianas e ao macedonianismo, formularam a doutrina da Trindade que ficou fixada no seu conjunto no "Credo niceno-constantinopolitano". Por esta época colocou-se a questão da relação entre as naturezas humana e divina de Cristo, a heresia do monofisismo, que foi finalmente decidida no Primeiro Concílio de Éfeso, convocado pelo imperador Teodósio II, que afirmou que Cristo é "perfeito Deus e perfeito homem" e definiu Maria como "Aquela que portou Deus" (Theotokos) em resposta à heresia nestoriana (do bispo Nestório) que lhe atribuia apenas o Christotokos (Aquela que portou Cristo). Esta posição depois foi reafirmada no Concílio de Calcedônia (451) e no Terceiro Concílio de Constantinopla (680).
Padres da Igreja


     Cristo entrega as chaves do Reino a São Pedro, Capela Sistina, afresco de Perugino.
     Os tempos de ouro da Patrística foram os séculos IV e V, embora possa se entender que se estenda até o século VII a chamada "idade dos Padres". Os principais Pais do Oriente foram: Eusébio de CesareiaSanto AtanásioBasílio de CesareiaGregório de NisaGregório NazianzoSão João Crisóstomo e São Cirilo de Alexandria.
     Os principais Padres do Ocidente são: Santo Agostinho, autor das "Confissões", obra prima da literatura universal e Santo Ambrósio, Eusébio Jerônimo, dálmata,  conhecido como São Jerônimo que traduziu a Bíblia diretamente do hebraicoaramaico e grego para o latim. Esta versão é a célebre Vulgata, cuja autenticidade foi declarada pelo Concílio de Trento. Outros pais que se destacaram foram São Leão Magno e Gregório Magno, este um romano com vistas para a Idade Média, as suas obras "os Morais e os Diálogos" serão lidas pelos intelectuais da Idade Média, e o "canto gregoriano" permanece vivo até os dias de hoje. Santo Isidoro de Sevilha, falecido em 636, é considerado o último dos grandes padres ocidentais.

     Por esta época surgiu o monaquismo. Em busca de uma imitação de Cristo mais perfeita, com o tempo o ascetismo cristão tomou formas de afastamento do mundo. Santo Antão é figura-símbolo do monaquismo dos primeiros séculos, mas a sua figura central é São Bento de Núrsia que com os seus dois primeiros mosteiros e a sua famosa "Regra" serviu de referência típica para o monaquismo, principalmente no Ocidente. Na idade média os mosteiros prestaram relevantes serviços e, dentre outros, tiveram a grande missão de conservar a cultura antiga.
     À medida que o Império Romano decaía, a Igreja assumiu muitas de suas funções e ajudou a manter a ordem no meio do caos que se generalizava. O fato de nem tudo se haver perdido se deve em grande parte à influência ordenadora da organização eclesial. Por ela foram estimulados os ideais de justiça social, preservada e transmitida a cultura antiga e civilizadas as populações bárbaras.

Novos Horizontes
     O Cristianismo, com a invasão dos bárbaros germânicos vindos do oriente a partir do século IV, teve nova oportunidade de expansão. Missionários levaram a mensagem do cristianismo para além das divisas antigas do Império. Winifrid, monge inglês que mudou o nome para Bonifácio, foi o grande apóstolo da Alemanha. Nos primórdios do século VI, no Natal, Clodoveu, rei dos francos recebeu o batismo católico, com ele todo o reino se converteu ao catolicismo. A França é considerada a filha primogênita da Igreja. Os magiares se converteram acompanhando o seu rei Santo Estevão, os boêmios com São Wenceslau e os poloneses com o batizado do duque Miezko.

Carlos Martel detém o avanço árabe na batalha de Poitiers.
     O Mediterrâneo, no entanto, por volta do século VII se viu às voltas com o avanço muçulmano, estes dominaram o norte da África, parte do Oriente que havia sido cristianizado e, no ano 711, desembarcaram naPenínsula Ibérica para conquistar com velocidade surpreendente o reino visigodo cristão e, a final, serem detidos em Poitiers por Carlos Martel. Por oito séculos os muçulmanos permaneceram na península. O relacionamento, neste período, entre muçulmanos e cristãos conheceu altos e baixos, desde inimigos em combates históricos a aliados episódicos contra vizinhos desafetos, uns e outros suportaram a dominação do adversário de forma desigual e inconstante, segundo as circunstâncias históricas de cada século. No início da Idade Média o Cristianismo sofreu ingerências dos senhores feudais, tanto nos bispados como naSanta Sé o que levou a vida eclesiástica a sofrer uma decadência moral.
O Grande Cisma
     O Bispo de Roma era tido pelos outros Patriarcas como "o primeiro entre iguais", embora o seu estatuto e influência tenha crescido quando Roma era a capital do império, com as disputas doutrinárias ou procedimentais a serem frequentemente remetidas a Roma para obter uma opinião. Mas quando a capital se mudou para Constantinopla, a sua influência diminuiu. Enquanto Roma reclamava uma autoridade que lhe provinha de São Pedro (que, segundo a tradição, morreu naquela cidade, e é considerado por ela o primeiro papa) e São Paulo, Constantinopla tornara-se a residência do Imperador e do Senado.
     Uma série de dificuldades complexas (disputas
doutrinárias, Concílios disputados, a evolução de ritos separados e se a posição do Papa de Roma era ou não de real autoridade ou apenas de respeito) levaram à divisão em 1054 que separou a Igreja entre a Igreja Católica no Ocidente e a Igreja Ortodoxa Oriental no Leste (GréciaRússia e muitas das terras eslavas, AnatóliaSíriaEgipto, etc.). A esta divisão chama-se o Grande Cisma do Oriente.
Apogeu medieval

Francisco de Assis, por El Greco.
     Os séculos XII e XIII formaram o apogeu clássico da cristandade medievalInocêncio III é a figura que desponta nesta época. Por este tempo reuniram-se concílios, surgiram as universidades, foram fundadas ordens religiosas de renome a de São Francisco de Assis, de São Domingos de GusmãoSão Bruno fundou a Cartuxa, e São Bernardo de Claraval, talvez o personagem europeu de maior importância do século XII, deu notável impulso à Ordem de Cister. Surgiram ainda a Ordem das Mercês (Mercedários), osermitãos de Santo Agostinho, e a Ordem do Carmo dentre outras. Surge também a "Escolástica", é o tempo de Alberto Magno e de Tomás de Aquino e a Suma   Teológica e do primeiro "código canônico" (Decretais de Gregório IX), recompilado por São Raimundo de Penhaforte. Surge a Universidade de Paris que tem os seu privilégios reconhecidos pelo Papa Inocêncio III, em 1215, e as de OxfordBolonha e Salamanca.

Catedral de Notre-Dame de Paris, demonstração da piedade cristã medieval.
     São deste tempo as Cruzadas, os Templários, os Hospitalários, as Ordens Militares e o "cavaleiro cristão" de que El Cid, Rodrigo Dias de Vivar, é o clássico modelo. O Papa concedia graças especiais aos combatentes, e nelas se envolveram príncipes e povos numa demonstração supranacional do elevado grau de seriedade da religiosidade da época. Também na Península Ibérica durante a reconquista os Papas decretaram algumas cruzadascontra o Islã, a mais famosa delas foi a batalha de Navas de Tolosa em 1212.
     A decadência das cruzadas coincide com o movimento das missões. São Francisco de Assis consegue com o anúncio do Evangelho e o exemplo da caridade o que as armas não alcançaram. Aparecem as grandesCatedrais, a arte medieval é praticamente exclusiva arte sacra e têm lugar as grandes peregrinações com sentido penitencial: ao Santo Sepulcro, aos túmulos de São Pedro e São Paulo, em Roma e a Santiago de Compostela.
Crise e cisma do Ocidente
     Correntes religiosas orientais antigas lançaram as suas raízes no sul da França e norte da Itália. Surgiram os "Valdenses" e os "Albigenses" ou "Cátaros", baldados os esforços religiosos-diplomáticos de Inocêncio III. Este acabou por convocar uma vitoriosa cruzada chefiada por Simão de Monforte. Para continuar a luta contra esta heresia foi criada
     a Inquisição exclusivamente para a defesa da fé e o combate à heresia. Nesta empresa rivalizaram o poder eclesiástico e o poder civil. Em 1232 foi criada por Gregório IX a Inquisição Pontifícia, tanto o sistema penal da época como o processo inquisitorial tiveram graves defeitos que ferem a sensibilidade do homem moderno.
     A Baixa Idade Média viu ainda surgir novas doutrinas heréticas, como as de Wiclef, professor em Oxford, cujas proposições são consideradas como precursoras dos reformadores do século XVI e tiveram forte influência sobre João Huss, cujas ideias tiveram ampla aceitação na Boêmia.
     Os violentos conflitos entre o Imperador Frederico II e os Papas Gregório IX e Inocêncio IV foram a causa imediata da crise do sistema doutrinal e político da cristandade no século XIII, o que gerou um ressentimento dos povos germânicos contra o papado e que se constitui em causa remota que favoreceu a revolução luterana. Os conflitos entre Bonifácio VIII e Filipe, o Belo, rei da França culminaram com o Papa prisioneiro em Avinhão. Em Avinhão o pontificado afrancesou-se: foram franceses os sete papas que ali se sucederam bem como a grande maioria dos cardeais. Apareceu um nacionalismo eclesiástico que desperta o interesse dos soberanos do ocidente. Em 1377 Gregório XI retorna a Sé Apostólica para Roma, no episódio sobressai a figura deCatarina Benincasa futura Santa Catarina de Sena que tem papel decisivo no retorno do Papado a Roma .

Santa Catarina de Sena escrevendo,Rutilio Manetti, século XVII
     A crise culmina no Cisma do Ocidente, os reis europeus se filiam a diferentes papas segundo as suas conveniências, chegam a ter até tres papas, cada um pretendendo ser a única cabeça legítima da Igreja. O Cisma deixou a cristandade dividida e perplexa, até mesmo entre os santos: Santa Catarina de Sena manteve-se ao lado de Urbano VI enquanto São Vicente Ferrer posicionou-se a favor de do Papa de AvinhãoAntipapa Clemente VII. O Cisma do Ocidente vai de 1378 a 1417 e só vai terminar com a eleição de Martinho V, quando a Igreja recupera a sua unidade.
A transição, Constantinopla e a América
     Vários fatores contraditórios coincidem na passagem da Idade Média para a Idade Moderna. As elites são alimentadas por uma nova visão, agora antropocêntrica e por um certo retorno à antiguidade pagã. Os papas do renascimento, com exceção deAdriano VI, são mais voltados para as artes e letras, tornaram-se mais governantes voltados para os assuntos temporais e verdadeiros mecenas, que preocupados com os problemas disciplinares eclesiásticos e para as questões espirituais.
     Constantinopla cai no dia 29 de maio de 1453 na mão
dos turcos otomanos. Perde-se o Império Cristão do Oriente que começava a se reaproximar depois do "Grande Cisma". Fechadas as portas para o Oriente têm início então as "grandes navegações" em que se destacaram as nações católicas Portugal e Espanha, a descoberta das Américas abre caminho para o Evangelho chegar a novos povos e permite novas perspectivas em que irão se destacar, no primeiro momento, os jesuítas de Santo Inácio de Loyola.
     É deste tempo, o Humanismo, culto exagerado dos clássicos latinos e gregos, defendia uma piedade erudita. O maior dos humanistas foi Erasmo de Roterdão (1466 - 1536), amigo de Thomas Morus. Na verdade, com exceção da Espanha, onde o humanismo apoiado pelo Cardeal Cisneros foi sinceramente cristão, a herança religiosa dos humanistas pouco contribuiu para uma esperada reforma da Igreja.
     A grande divisão seguinte da Igreja Católica ocorreu no século XVI com a Reforma Protestante, durante a qual se formaram muitas das denominações Protestantes.

A Reforma Protestante
     A Reforma protestante teve Martinho Lutero por autor. Antigo frade da ordem dos Agostinhos, a sua constestação à Igreja Católica foi auxiliada pela decadência moral, pelos interesses burgueses e por fatores de ordem política, como os conflitos entre papas e imperadores germânicos, o ressentimento contra Roma que tinha tomado forma nos Gravamina Nationis Germanicae, um império germânico fragmentado em pequenos principados e cidades-estado e os nacionalismos eclesiásticos[13].

     Na sequência da sua contestação, Lutero construiu um sistema doutrinal-religioso em franca divergência com a tradição da Igreja. Segundo Lutero, as obras do homem de nada servem para a salvação, nem os sacramentos na sua maioria, nem o Papado. A Igreja não seria nem depositária e nem interprete da Revelação. A Sagrada Escritura apenas e exclusivamente seria a única fonte da Revelação segundo a interpretação livre que cada fiel em particular lhe desse, diretamente inspirado por Deus. Publicou as 95 tesescontra a Teologia Escolástica e as 95 sobre as Indulgências. Em 1521 foi excomungado.
     As doutrinas de Lutero tiveram boa aceitação: a supressão do celibato eclesiástico por não poucos sacerdotes, numa época de baixo nível moral do clero, e a supressão dos votos monásticos por comunidades religiosas; a doutrina de que "a fé sem as obras justifica" (sola fide) foi aproveitada por pessoas ainda ressentidas contra o poder papal, contudo desejosos de garantir a própria salvação sem a relação com a Igreja. Também a possibilidade de se apropriar dos bens da Igreja atiçou a cobiça dos príncipes.
     Em 1546, quando Lutero faleceu, a Reforma protestante já abrangia mais da metade da Alemanha. Em 1545 tem início o Concílio de Trento que o imperador Carlos V de Habsburgo, defensor da fé católica, vinha reclamando havia quinze anos. O conflito entre o imperador e os nobres e príncipes protestantes terminou em luta armada. Pelo tratado de paz de Augsburgo ficou concedida a igualdade de direitos entre católicos e protestantes e ficou estabelecido que aos príncipes caberia decidir a confissão a ser seguida no respectivo território.


Thomas Morus, santo, mártir e humanista inglês, porHans Holbein.
     Zuínglio na SuíçaJoão Calvino na França, levaram adiante ideias similares às de Lutero. O Calvinismo vai arraigar-se com profundidade em Genebra, entre os franceses (huguenotes), na Escócia com John Knox e de uma forma mais amena nos Estados Unidos com a Igreja Presbiteriana. Na InglaterraHenrique VIII, por razões pessoais - não obtendo a invalidação de seu casamento - se faz Cabeça suprema da igreja no país - provocando o martírio de Tomás Moro, Lord Chanceler do Rei, de John Fisher, Bispo de Rochester, e de alguns sacerdotes, frades franciscanos e monges capuchos.
A Reforma Católica
     Os anseios de renovação cristã produziram um admirável florescimento no seio da Igreja, que em algum país, como a Espanha, se iniciou antes do Luteranismo. Reformaram-se antigas ordens religiosas, criaram-se ordens novas, apareceram grandes santos e grandes papas.[16] A Espanha dos Reis Católicos se coloca na vanguarda da Reforma Católica. O Cardeal Cisneros reformou os conventos franciscanos e a vida monástica; a Universidade de Alcalá, fundada por ele, foi um grande pólo de estudos teológicos, que publicou a célebre Bíblia Poliglota Complutense, os teólogos espanóis tiveram papel destacado em Trento.
     A Reforma Católica também conhecida como Contra-Reforma teve como ponto principal o Concílio de Trento, embora este movimento tenha começado anteriormente em vários setores da Igreja. O Concílio não conseguiu o objetivo almejado por Carlos V de restaurar a unidade cristã; mas realizou uma obra imensa, tanto no campo da doutrina católica como no da disciplina eclesiástica.[18]
     Em 1534 foi eleito Papa, aos 66 anos de idade, o Cardeal Alexandre Farnesio, que tomou o nome de Paulo III. Vencendo a resistência de reis e príncipes convocou o Concílio Ecumênico de Trento, que inicia os trabalhos as 13 de dezembro de 1545 e só concluiu em 1563.

O Concílio de Trento, tela no Museu Diocesano de Trento
     O Concílio determinou um novo vigor para a Igreja Católica. Medidas reformadoras foram impostas em todos os países que se mantiveram fiéis a Roma, cessando o avanço do protestantismo. Em alguns cantões Suíços, na Baviera, na Polônia, naÁustria consolidou-se o catolicismo. O avanço português e espanhol nas AméricasÁfrica e Ásia serviu de veículo à expansão da fé católica. Acabaram-se os pregadores de indulgências de "meia-pataca", puseram-se fim aos abusos e ao relaxamento moral do clero, restabelecendo uma disciplina eclesiástica. A Vulgata de São Jerônimo seria a tradução latina oficial da Igreja, todas as teses protestantes foram discutidas e revigorou-se as doutrinas dogmáticamoral e sacramentalcatólicas.
     Ao mesmo tempo São Pedro Canísio no Leste EuropeuSão Carlos Borromeu como secretário de Estado de Pio IV, e mais tarde arcebispo de Milão, aplicando a Reforma Católica ao norte da Itália, foram elementos importantes para o cumprimento dos decretos do Concílio de TrentoSanta Teresa de Jesus, reformadora do CarmeloSanto Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, ao falecer deixara ordenados mais de mil jesuítas evangelizando o mundo inteiro, e São Filipe Néri, foram três gigantes da Reforma Católica. São Thomas Morus morreria decapitado por se manter fiel à fé, juntamente com John Fisher e o Venerável Edmundo CampionSão Francisco Xavier levaria o Evangelho ao Extremo Oriente, àÍndia, Malaia, Japão e à ChinaSão Francisco de Borja repararia com folga os erros de sua família, São Roberto Belarmino daria novo impulso á teologia. A Igreja ressurgia da crise fortalecida e revigorada doutrinal e espiritualmente. Após o Concílio de Trento São Pio VGregório XIII e Sisto V se destacaram pela energia do seu trabalho como grandes reformadores.

Descrição: http://bits.wikimedia.org/skins-1.18/common/images/magnify-clip.png
É dessa época o Calendário Gregoriano. Gregório XIII, sucessor de S. Pio V, fundou uma série de colégios eclesiásticos para melhoria da formação do clero. Determinou que uma comissão de peritos com a colaboração de um erudito jesuíta Cristóvão Clávio, astrônomo e matemático, procedesse ao estudo e à reforma do calendário "Juliano". Os trabalhos foram concluídos em 1582 e o dia 4 de outubro seria seguido do dia 15. É o calendário seguido pelo mundo inteiro para efeitos civis.

A ascensão francesa
No século XVII a França passou a ocupar o espaço que anteriormente era o da Espanha e passou a ser a principal referência da vida cristã.
A França permaneceu católica e com o Édito de Nantes (1598) os protestantes huguenotes receberam garantias de tolerância religiosa. Começa então um período de vívida atividade, as missões de São Francisco de Sales em Chablais, conseguiram o regresso aocatolicismo de grande parte da suiça francesa.
São Vicente de Paulo também promoveu missões de alcance popular, às quais se dedicaram os lazaristas, oriundos do Seminário de São Lázaro, desenvolveu intensa atividade beneficente e social, principalmente através das Irmãs da Caridade. São João Batista de La Salle funda uma ordem religiosa voltada para o ensino, e a ordem dos Cistercienses foi reformada pelo Abade Rancé, dando origem à Ordem Trapista.
      No espírito tridentino foi fundado o "Oratório" pelo Cardeal Bérulle e Jean-Jacques Olier os "sulpicianos" do seminário de São Sulpício, formador de professores e mestres para outros seminários. A intelectualidade francesa foi enriquecida com personalidades
católicas do nível de Blaise PascalMabillonBossuet e Fénelon e Luís XIII consagra a França à Santíssima Virgem (1638) e Luís XIV revogou o Édito de Nantes (1685) impondo a unidade católica pela força.
     O século XVII foi também um período de intensas disputas doutrinário-teológicas, o que demonstra a vitalidade e o interesse pelo tema religioso. São desta época o as correntes de pensamento religioso do "Molinismo" e os "Bañezianos" seus adversários, o "Jansenismo" e o "Quietismo", algumas delas condenadas expressamente por Roma.
     Houve uma crise cultural tentando conciliar o racionalismo tomista com o novo racionalismo iluminista que começava a surgir. É desta época o julgamento de Galileu - deplorado pelo Concílio Vaticano II e pelo Papa João Paulo II - cujas teses, só teriam a possibilidade de demonstração física da verdade séculos mais tarde.

Santa Teresa de Ávila, reformadora da Ordem Carmelita.
Do Regalismo à Restauração
§  O despotismo ilustrado
No século XVIII as monarquias católicas pretenderam o controle da vida eclesiástica, movimento que ficou conhecido como "Regalismo", o que fez com que o Pontificado Romano perdesse parte de seu poder político. Isto não só pela perda de territórios para naçõesprotestantes. Pretenderam fazer da Igreja um serviço público subordinado ao rei e integrante da administração do Estado. Este comportamento era característico do Despotismo IlustradoCatolicismo como única religião oficial do Estado e sob intervenção do monarca e desconfiança em relação a Roma, seria a marca desta fase. Esta tendência anti-romana teve como alvo preferido a Companhia de Jesus, principal força de que dispunha o Papado. Os jesuítas foram expulsos de Portugal, da Espanha, de Nápoles e daFrança e finalmente foram dissolvidos por Clemente XIV.
     Na França este intervencionismo clerical de Luiz XIV ficou conhecido como "Galicanismo", nas terras germânicas surgiu o Febronianismo, de Febrónio, psudônimo de João Nicolau de Hontheim, bispo auxiliar do bispo eleitor de Tréveris que defendia a subordinação da Igreja aos príncipes. Na Áustria surgiu o "Josefismo" de igual tendência, o mesmo se deu com Pedro, o Grande na Rússia, que suprimiu o Patriarcado da Igreja russa. Os episcopados das monarquias regalistas se transformaram em patrimônio da aristocracia, tornaram-se dóceis ao poder, e nos finais do Antigo Regime a vida cristã tanto da hierarquia como do povo aparentava languidez e opacidade.

§  O Iluminismo
     A partir de 1680 verificou-se uma mudança de mentalidades e ideias na Europa. Surge o racionalismo de Descartes que levado ao extremo chega ao ceticismo religioso, surgiram os "libertinos" que adotavam uma posição de indiferença para com a religião, eram epicuristas: "comamos e bebamos que amanhã morreremos". Espinoza faz uma crítica radical contra a Bíblia e o "Deísmo" da Inglaterra se propagou para o continente.   
     O Deísmo não nega Deus mas o afasta do homem e adota uma construção panteísta e foi adotado pela Maçonaria, principalmente a inglesa que surge nesta época. Combate qualquer religião organizada, e era adversária em especial do cristianismo. Foi condenada por Clemente XII em 1738. O ódio a qualquer religião e principalmente ao cristianismo foi também uma obsessão para Voltaire.
     Mas o principal instrumento para divulgação da ideologia "ilustrada" foi a "Enciclopédia", projetada por Diderot e D'Alembert, com orientação intelectual ostensivamente contrária ao Cristianismo, teve a sua ideologia religiosa fortemente influenciada por Rosseau de linha de pensamento vagamente Deísta. Emmanuel Kant de sua vez teve decisiva importãncia no pensamento europeu do século que viria.
     O conflito entre o Iluminismo e a Igreja Católica teve seu auge no final do século XVIII com a Revolução Francesa, cuja Constituição Civil do Clero aboliu muitos privilégios do clero e reduziu a hierarquia francesa a funcionários públicos, sujeitos às interpretações teológicas e intervenções do Estado revolucionário.
§  A Revolução
     A Revolução Francesa, nos seus momentos mais radicais, fez o possível para eliminar qualquer religião e extirpar qualquer resquício de vida cristã na sociedade. Dois papas foram aprisionados na França, os templos e bens da Igreja confiscados e depois cairam em mãos de particulares. Sob oTerror, a perseguição anticatólica atingiu o seu ponto máximo. Milhares de católicos subiram ao patíbulo pelo simples fato de professarem a religião, dentre eles destacam-se as Carmelitas Teresianas de Compiègne[21]. Procedeu-se à matança [22] dos clérigos que não jurassem a Constituição Civil do Clero, proibida por Pio VI. Institui-se uma religião-ideologia de estado e tentou-se difundir o culto pagão à "Deusa-Razão" numa encenação da sua coroação na Catedral de Notre-Dame de Paris, em 10 de novembro de 1793.
     Napoleão foi o restaurador da Igreja na França com a Concordata de 17 de julho de 1801 e, ao assumir o poder, restabeleceu as velhas práticas do "Regalismo Galicano". Depois de Waterloo muitos católicos defenderam uma "aliança entre o Trono e o Altar" achando que assim se asseguraria uma estabilidade para ambos. Esta aliança não duraria muito.
O Século "Das Coisas Novas"


     Em 1802 em consequência de uma Concordata entre Napoleão e a Cúria Romana, a Igreja Católica recuperou sua autonomia e legalidade na França.
     As ondas do nacionalismo fizeram com que o Papado percebesse que estava perdendo terreno no poder temporal, assim passou a garantir sua hegemonia espiritual sobre toda a Igreja Católica: em 1847 foi estabelecido um Patriarcado Latino de facto em  Jerusalém(desde as cruzadas o título era somente honorário); a hierarquia católica foi restabelecida e reconhecida pelo parlamento na Inglaterra, graças em parte às campanhas do irlandês O'Connel.
Surge nesta época o Movimento de Oxford na Igreja Anglicana que procurava uma aproximação com a Igreja Católica. Teólogos anglicanos como John Henry Newman que se converteu em 1845 e depois nomeado Cardeal e Edward Manning arcediago da Catedral de Chichester que converteu-se em 1851 e depois nomeado também Cardeal são fatos marcantes da vida da Igreja na Inglaterra deste século.

Descrição: http://bits.wikimedia.org/skins-1.18/common/images/magnify-clip.png
A Imaculada Conceição, porMurillo.
     Em 1846, antes mesmo da proclamação do dogma, a Imaculada Conceição era declarada padroeira dos Estados Unidos da América e surgem os primeiros beatos e santos norte-americanos: Filipa Duchesne, Santa Francisca Xaviera Cabrini e Isabel Ana Seton. Com as crises provocadas pelas guerras franco-prussianas e da unificação da Itália, Roma é invadida e o Papa se declara prisioneiro no Vaticano. Pio IX, na encíclica Quanta cura, condena os erros do liberalismo filosófico, do racionalismo, do pantéismo, do naturalismo, do agnosticismo, do indiferentismo, do racismo, do socialismo marxista e do comunismo.
     Na verdade, a Igreja surge rejuvenescida. É deste tempo o Cura d'Ars, São João Maria Baptista Vianney, pároco de uma pequena aldeia perto de Lyon, na França, mais tarde proclamado patrono do clero secular; a Bernadete Soubirous de Lourdes e a confirmação da proclamação do dogma da Imaculada Conceição e as Conferências de São Vicente de Paulo, fundadas por Frederico Ozanam.
     Na Áustria, São Clemente Hofbauer se notabiliza; na Itália, o trabalho de São João Bosco regenera marginais, conquista a juventude e convence pela caridade governos locais ateus e anticlericais. Santo Antônio Maria Claret funda a ordem dos Claretianos missionários.
     Em 1854 é proclamado formalmente o dogma da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria. Em 1869 o Papa Pio IX convoca o Concílio Vaticano I, que afirma o dogma da Infalibilidade Pontifícia, na votação todos os Padres Conciliares, exceto dois, votaram neste sentido, e ambos os dissidentes logo que souberam do resultado aderiram, não obstante, por isto, alguns teólogos fundarem a Igreja Vétero-Católica. A proclamação deste dogma determinou a discriminação e mesmo a perseguição de católicos na Prússia, onde Bismarck havia lançada a sua kulturkampf, que depois será contornada com a diplomacia de Leão XIII. O Concílio também adota a Constituição Apostólica Dei Filius que consolida a doutrina da Igreja sobre as relações entre fé e razão.
     Também inicia a era da Doutrina Social da Igreja Católica, com a publicação da encíclica Rerum Novarum (1891) pelo Papa Leão XIII em que enfrenta os problemas da "questão social" que surge e onde condena os excessos do liberal-capitalismo e a luta de classes, defende o salário justo e proclama a função social da propriedade e critica tanto Estado do laissez-faire como dirigismo socialista.

Papa Leão XIII.
     O mesmo Leão XIII na encíclica Aeterni Patris reafirma as doutrinas de São Tomás de Aquino, na Immortale Dei (1885) dá diretrizes para a ação política cristã. Este século deu ainda ao mundo uma "pequena grande" santa: Teresa de Lisieux ou Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, freira carmelita enclausurada, falecida aos 24 anos de idade, canonizada, foi declarada co-padroeira dos missionários ao lado de São Francisco de Sales e se tornaria muito popular.
Os primórdios do Século XX
     Leão XIII foi sucedido por pelo Cardeal Sarto que assumiu o nome de Pio X e que viria a ser canonizado. Este iniciou os trabalhos de unificação das leis eclesiásticas que mais tarde se tornariam no Código de Direito Canônico de 1917, determinou a redação de umCatecismo, combateu o modernismo e recomendou a comunhão das crianças a partir da idade do discernimento. Faleceu nas primeiras semanas da Primeira   Guerra Mundial.
      Bento XV, Cardeal della Chiesa, exerceria o pontificado de 1914 a 1922. Durante a Guerra, a Santa Sé realizaria um grande trabalho em favor das suas vítimas e de localização de soldados desaparecidos. A Bento XV sucedeu Pio XI (1922-1939): durante o seu período na Santa Sé assinou o Tratado de Latrão que instituiu o Estado da Cidade do Vaticano. Condenou os erros do fascismo na carta Encíclica Non abbiamo bisogno, escrita não em latim, mas na língua italiana, para que não se tivesse dúvida a quem se dirigia. Criou e incentivou a Acção Católica destinada a orientar o apostolado dos leigos, desenvolveu também a ação missionária. Inaugurou a Rádio Vaticano inserindo a Igreja na era da tecnologia das comunicações, criou um observatório astronômico e foram criadas universidades católicas na Itália, Holanda e Polônia.
     Durante o pontificado de Pio XI foi assinado o Tratado de Latrão dando início ao reconhecimento internacional do Estado do Vaticano tendo o Papa como seu soberano e determinando o fim da chamada Questão Romana. Em 1931 Pio XI publicou as EncíclicasCasti Connubii e Quadragesimo anno por ocasião dos quarenta anos da publicação da Rerum Novarum do Papa Leão XIII atualizando a Doutrina Social da Igreja e a Divini Redemptoris, em que condenou os erros
 do materialismo marxista e os do comunismo ateu, ideologia oficial da União Soviética.
     Publicou também a Encíclica Mit brennender Sorge (Com ardente ansiedade) em alemão, para condenar os erros do Nazismo e sua doutrina racista, que foi lida em todas as igrejas alemãs em 1937, o que determinou o recrudescimento da perseguição contra os católicos pelos nazistas. Foi um tempo de florescimento da Igreja que teve como contraponto a perseguição e o mártírio de muitos cristãos. Na Rússia comunista e no México a perseguição teve dimensões inéditas. Durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), foram assassinados sete mil religiosos espanhóis por "ódio à religião", pelo fato de serem religiosos católicos.
A Segunda Guerra e o pós-Guerra
Segunda Grande Guerra produziu muitos mártires católicos, dentre eles se destacam Edith Stein e Maximiliano Kolbe e ainda os beatos Rupert Mayer e Alojs Andritzki, nesta mesma época o Arcebispo de Berlim, Cardeal von Preysing e o beato von Galen, cardeal e bispo de Münster, destacaram-se na denúncia dos crimes do nazismo.

Edith Stein, pensadora, mártir e co-padroeira da Europa
     O Cardeal Pacelli tomou o nome de Pio XII (1939-1959), quando os nazistas ocuparam Roma, acolheu no Vaticano milhares de perseguidos, de todos os credos e raças e nacionalidades. Por uma grande soma de dinheiro resgatou 200 judeus e, com a sua aprovação, Monsenhor O'Flaherty, alto funcionário da Congregação do Santo Ofício, organizou uma rede clandestina de auxílio aos perseguidos que permitiu que fossem salvos milhares de judeus e comunistas.
     Desde 1939 não se nomeavam novos cardeais. Pio XII, em 1946, procedeu à nomeação das 32 vagas existente num colégio de cardeais que na época era de 70 cardeais. Nomeou quatro cardeais italianos e vinte e oito de outras nacionalidades. Dava o primeiro grande passo para retomar a nota da universalidade da Igreja que seria revigorada no Concílio Vaticano II.
     Em 1950, Pio XII proclamou solenemente o dogma da Assunção da Virgem Maria cuja tradição já era celebrada desde São Leão Magno, no século V (15 de agosto) e consagrou a Humanidade ao Imaculado Coração de Maria. Criou 190 dioceses e incentivou a criação de novas instituições na Igreja. No seu tempo a divisão da Europa aumentou o sofrimento da Igreja e a perseguição religiosa no Leste Europeu, do outro lado da Cortina-de-Ferro sobressaíram a têmpera dos cardeais MindszentyStepinac e Wyszynski, e, silenciosamente, forjava-se o Cardeal Karol Wojtyla, que mais tarde viria impressionar o mundo. Editou a encíclica Humani Generis (1950) que critica os erros do neo-modernismo. Nesta década Madre Teresa de Calcutá funda a ordem das Missionárias da Caridadecujo trabalho chamará a atenção do mundo inteiro.
A era do Concílio Vaticano II


     O Papa João XXIIIconvocou o Concílio Vaticano II.
     O Concílio Vaticano II foi convocado por João XXIII, em 25 de dezembro de 1961, através da bula Humanae salutis, com o objetivo de promover o incremento da fé católica e uma saudável renovação dos costumes do povo cristão, e adaptar a disciplina eclesiástica às condições do nosso tempo. Os trabalhos foram abertos oficialmente em 11 de outubro de 1962 e foi encerrado em 8 de dezembro de 1965.
     A era do concílio ficou conhecida como a "Primavera da Igreja", o Concílio estabeleceu um importante programa de renovação da Igreja e promulgou documentos que servem de parâmetro para ação da Igreja. Um dos mais conhecidos documentos conciliares é a Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo atual. Entre várias renovações, este concílio reformou a Liturgia, a constituição e a pastoral da Igreja (que passou a ser alicerçada na igual dignidade de todos os fiéis e a ser mais virada para o mundo), clarificou a relação entre a Revelação divina e a Tradição, e impulsionou a liberdade religiosa, o ecumenismo e o apostolado dos leigos. Não foi proclamado nenhum dogma, mas as suas orientações doutrinais e práticas são de extrema importância para a Igreja actual.
     Entretanto por ocasião do Concílio, em nome de um pretenso "espírito conciliar", ocorreu no mundo eclesiástico uma crise de fundo "neo-modernista" com várias práticas contrárias à doutrina e à disciplina da Igreja, em desacordo com os documentos do próprio concílio, afirmando ser a missão da Igreja não a salvação eterna do homem mas que a sua missão haveria que ser de ordem preferentemente temporal.
     No Ocidente surge a sociedade de bem-estar e de a de consumo seguidas do materialismo prático que reduz a visão do homem a plano unicamente temporal, por coincidência, simultaneamente, surge a crise das famílias, a separação de casais, a irrupção da violência, o aumento do consumo de drogas, a epidemia de SIDA, em muitos lugares permite-se o aborto e a mentalidade antinatalista faz com que vários países tenham sérios problemas demográficos. A estes problemas a Igreja responde com a proclamação da íntegra do seu magistério.
     Em 1968 o Papa Paulo VI edita a encíclica Humanae Vitae sobre os problemas do matrimônio e da família, em especial sobre o uso de contraceptivos artificiais, e o Credo do Povo de Deus onde reafirma as proposições fundamentais da fé católica, com ênfase nas questões mais atuais que contrariam a doutrina da Igreja. O Papa João Paulo I em brevíssimo pontificado sucede a Paulo VI.

João Paulo II e o Terceiro Milênio
     Pela primeira vez em quatro séculos e meio foi eleito um Papa que não tinha origem na Itália. O cardeal Karol Wojtyla, de origem eslava, para surpresa do mundo, é eleito para exercer um dos pontificados mais longos em dois mil anos de história da Igreja.João Paulo II realiza uma grande reforma na Igreja em extensão e profundidade com os olhos postos no Concílio Vaticano II do qual tomou parte. Segundo Bento XVI "João Paulo II acolheu particularmente em todos os seus documentos, e ainda mais nas suas opções e no seu comportamento como Pontífice, as exigências do Concílio Ecuménico Vaticano II, tornando-se assim qualificado intérprete e testemunha coerente. Foi sua preocupação constante fazer conhecer a todos que vantagens podiam surgir do acolhimento da visão conciliar, não só para o bem da Igreja, mas também para o da própria sociedade civil e das pessoas que nela trabalham."
     No seu pontificado foi reafirmada mais uma vez a doutrina imutável da Igreja em toda a sua amplitude. Em 1985 convocou uma Assembléia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, "com a finalidade de aprofundar o ensinamento do concílio, promover o seu conhecimento e aplicação. Atendendo ao desejo dos Padres Sinodais "determinou a publicação de uma versão do Catecismo da Igreja (1992) e do seu Compêndio (2005) - póstuma - bem didática, que facilitasse a sua compreensão pelo homem moderno.
     Determinou uma atualização do Código de Direito Canônico, promulgando um novo em 1983, para que a nova legislação canônica se tornasse um meio eficaz para que a Igreja possa aperfeiçoar-se, de acordo com o espírito do Vaticano II, e cada dia esteja em melhores disposições de realizar a sua missão de salvação neste mundo. Enfrentou os problemas morais, sociais e filosóficos do seu tempo sobre todos manifestando de modo claro o Magistério da doutrina católica[carece de fontes]. Combateu ocomunismo e é apontado como o principal responsável pela "Queda do Muro de Berlim" e pela dèbacle dos regimes da "Cortina-de-Ferro" foi um crítico do materialismo, do consumismo, do hedonismo, do antinatalismo, do aborto, do capitalismo selvagem e do marxismo. Afirmou que o principal capital da empresa são os seus empregados e que estes precedem em importância ao capital e ao lucro.

Descrição: http://bits.wikimedia.org/skins-1.18/common/images/magnify-clip.png
Beata Madre Teresa de Calcutá, defendeu os princípios católicos da família (foto de Evert Odekerken, Índia, 1988).
      Consolidou a Doutrina Social da Igreja (2004) e mandou que fosse publicado um compêndio sobre o assunto (póstuma), documento marcante sobre os temas sociais é a encíclica Centesimus Annus (1991) publicada por ocasião do centenário da Rerum Novarum e ainda, Laborens exercens (1981) e Sollicitudo rei socialis (1987) que constituem etapas marcantes do pensamento social católico.
     Reafirmou a posição da Igreja em favor da vida e combateu o que denominou de cultura da morte nas encíclicas Evangelium Vitae (1995) e Veritatis Splendor (1993), onde aborda também diversas questões morais e filosóficas da atualidade. A crítica ao ateísmo e à fé sem razão é feita na encíclica Fides et Ratio (1998).
     Promoveu-se, no seu pontificado, uma intrasigente defesa dos valores da família e da doutrina católica sobre a família. Neste sentido foram publicados, principalmente, os documentos Carta Apostólica Mulieris Dignitatem ( 15 de Agosto de 1988), Carta às Mulheres(29 de Junho de 1995), Carta aos Anciãos (1° de Outubro de 1999), Carta às Crianças (13 de Dezembro de 1994), Cartas às Famílias (2 de Fevereiro de 1994) e a Exortação Apostólica Familiaris Consortio (22 de novembro de 1981). A partir de 1994 deu início aos "Encontros Mundiais da Família", foi incentivada a pastoral da juventude e as "Jornadas Mundiais de Jovens". Fez ainda incluir na Ladainha de Nossa Senhora a invocação Regina Familiae (Rainha das Famílias).
     Na Exortação Apostólica Christifideles Laici (30 de dezembro de 1988) relembrou aos leigos os seus deveres cristãos na vida da sociedade e o seu chamamento universal à santidade que fez o Concílio Vaticano II. Em aplicação dos textos conciliares, a Santa Séerigiu o Opus Dei como Prelatura Pessoal (1982), fenômeno ascético e pastoral de singular importância que desde 1928 vinha difundindo esta mensagem.

Cristo ressuscitado e Maria no Juízo Final, por Miguelângelo,Capela Sistina.
     Firme na ortodoxia católica não deixou de incentivar o ecumenismo, ao mesmo tempo em que realizou o ato formal de excomunhão do arcebispo Marcel Lefebvre, determinou a revisão do processo de Galileu Galilei e condenou a "teologia da libertação", que tinha uma visão marxista da religião e do mundo. Modernizou o processo de canonização dos santos, para servirem de exemplo e para mostrar que a santidade é alcançável ao "homem comum". A ação pastoral da Igreja foi reavivada com as dezenas de viagens internacionais que fez, sem precedentes em toda a história da Igreja.
     Renovou todo o Colégio de Cardeais exceto um, e foi sucedido pelo único cardeal presente ao Conclave que não havia sido por ele nomeado, mas por Paulo VI: Joseph Ratzinger que tomou o nome de Bento XVI, em 19 de abril de2005. No século XXI a maioria dos católicos não pertence mais à velha Europa mas aos povos do chamado Terceiro MundoHoje a Igreja aparece como a grande defensora do homem, da sua dignidade de criatura e filho de Deus e do seu direito à vida e à liberdade. Na nova humanidade de finais do século XX, o Cristianismo aparece, em suma - exatamente como nos seus começos - como a religião dos discípulos de Cristo. 
Referências
1.       August Franzen, Kleine Kirchengeschichte Neubearbeitung, Herder,Freiburg,1988, p.11
2.       Orlandis, A Short History of the Catholic Church (1993), preface
3.       Catecismo da Igreja Católica (CIC), n. 770
4.       Catecismo da Igreja Católica, ns. 880 e 881. Roma: Libreria Editrice Vaticana, 1992. Tradução brasileira das Ed. Vozes, Paulus, Paulinas, Loyola e Ave-Maria, 4a. edição, 1993. ISBN 85-326-0910-4
5.       Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium
6.       ORLANDIS, José. História breve do Cristianismo. Tradução de Osvaldo Aguiar - Lisboa: Rei dos Livros, 1993, pg.13.
7.       CÂMARA, Jaime de Barros. Apontamentos de História Eclesiástica. 3a. Ed. Petrópolis, RJ: Ed. vozes, 1957, pg.22.
8.       ORLANDIS, José. História breve do Cristianismo. Tradução de Osvaldo Aguiar - Lisboa: Rei dos Livros, 1993, pg.14.
9.       WOHL, Louis de. Fundada sobre a rocha, história breve da Igreja. Tradução de Teresa Jalles - Lisboa: Rei do Livros, 1993, pgs.46/47.
10.   O Gnosticismo, que constituía uma verdadeira escola intelectual - apresentava-se como sendo uma sabedoria superior, apenas ao alcance de uma elite minoritária de iniciados, o representante mais notável deste corrente foi Marcião, que fundou uma pseudo-igreja, que procurava imitar a Igreja cristã na sua organização e liturgia - vide ORLANDIS, José. História breve do Cristianismo. Tradução de Osvaldo Aguiar - Lisboa: Rei dos Livros, 1993.
11.   ORLANDIS, José. História breve do Cristianismo. Tradução de Osvaldo Aguiar - Lisboa: Rei dos Livros, 1993, pgs. 23/27.
12.   ORLANDIS, José. História breve do Cristianismo. Tradução de Osvaldo Aguiar - Lisboa: Rei dos Livros, 1993, pgs. 28/31.
13.   História Global Brasil e Geral. Pág.: 157-162 e 342. Volume único. Gilberto Cotrim. ISBN 978-85-02-05256-7
14.   Finalmente, há ainda a considerar as causas econômicas da Revolução Protestante. As mais importantes dentre elas foram o desejo de se apossar das riquezas da igreja e o ressentimento contra a tributação papal. (…) Os reis, suspirando por mais exércitos e armadas, tinham urgente necessidade de aumentar as suas rendas. (…) Além disso, na Alemanha, a pequena nobreza estava ameaçada de extinção em vista do colapso da economia senhorial. Muitos dêsses pequenos nobres lançavam olhares cobiçosos às terras da igreja. Se fosse possível encontrar uma escusa para expropriar essas terras, a sua difícil situação ficaria bastante aliviada. in BURNS, Edward Macnall, op. cit., II vol., pgs. 458-459.
15.   Deve-se considerar também o grande patrimônio da Igreja, que despertou a cobiça de reis e nobres, desejosos de anexarem às suas terras as ricas propriedades dos bispados e mosteiros adquiridas, durante séculos, pelas doações dos fiéis(…) in SOUTO MAIOR, Armando, op. cit., pgs. 298-299.
16.   ORLANDIS, José. História breve do Cristianismo. Tradução de Osvaldo Aguiar - Lisboa: Rei dos Livros, 1993. ISBN 972-51-0046-8, pg. 122
17.   ORLANDIS, José. Op. cit. p. 123
18.   ORLANDIS, José. Op. cit. p. 122
21.   Teresianas Mártires de Compiégne em Catholic Encyclopedia. Visitado 18.ago.2011
22.   Mártires da Revolução Francesa em "The Hagiography Circle". Visitado em 18.ago.2011
23.   PAYNE, Stanley G. El catolicismo español, Barcelona, 1984, pág. 214. Cfr. Fernando Meer Lecha-Marzo, Algunos aspectos de la cuestión religiosa en la Guerra Civil (1936-1939), em Anales de Historia Contemporánea, n. 7 (1988-1989), págs. 111-125
25.   Mensagem de Bento XVI por ocasião do Congresso Internacional sobre o "O Vaticano II no pontificado de João Paulo II"
26.   Constituição Apostólica Sacrae disciplinae leges
27.   Folha.com 13.maio.2011.
28.   Veja on-line Edição histórica 6.abril.2005
29.   Encíclica Laborem exercens n. 12, 1981.
30.   ORLANDIS, José. Op.cit. pg. 183
[editar]Bibliografia
§  BÍBLIA SAGRADA. Traduzida por vários autores portugueses para editorial Universus e anotada pela Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra. Edições Theologica (3 vols.), Braga, 1990.
§  BURNS, Edward McNall. História da Civilização Ocidental. Tradução de Lourival Gomes Machado, Lourdes Santos Machado e Leonel Vallandro - Porto Alegre: Editora Globo, 1972 (2a. edição).
§  Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Vozes, Paulus, Paulinas, Loyola e Ave-Maria, 4a. edição, 1993. ISBN 85-326-0910-4
§  CÂMARA, Jaime de Barros. Apontamentos de História Eclesiástica. 3a. ed. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 1957.
§  COLLANTES, Justo. A fé católica: documentos do Magistério da Igreja: das origens aos nossos dias / organização, introdução e notas de Justo Collantes; tradução cotejada com os originais em latim e grego. Rio de Janeiro: Lumen Christi, 2003. ISBN 85-88711-03-6
§  CRISTIANI, Mons. Brève histoire des hérèsies. Paris: Librairie Arthème Fayard, 1962.
§  CROCKER III, H. W. Triumph - The Power and the Glory of the Catholic Church: A 2,000-Year History (Prima Publishing, 2001). ISBN 0-7615-2924-1
§  DANIEL-ROPS, Henri. História da Igreja de Cristo. Tradução de Henrique Ruas; revisão de Emérico da Gama - São Paulo: Quadrante, (10 vols.), 2006. ISBN 85-7465-002-1
§  DUFFY, Eamon. Saints and Sinners: A History of the Popes (Yale Nota Bene, 2002). ISBN 0-300-09165-6
§  HUGHES, Philip. História da Igreja Católica. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1962.
§  JOÃO PAULO II. Encíclicas papais do Papa João Paulo II: profeta do ano 2000. / Luís Maria A. Sartori organizador. 2a. ed. São Paulo: LTr, 1999. ISBN 85-7322-578-5
§  LLORCA, Bernardino; GARCÍA-VILLOSLADA, Ricardo e LABOA, Juan María. Historia de la Iglesia Católica. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos (5 vols.), 2005. ISBN 84-7914-229-4
§  ORLANDIS, José. História breve do Cristianismo. Tradução de Osvaldo Aguiar - Lisboa: Rei dos Livros, 1993. ISBN 972-51-0046-8
§  ORTÍ, Vicente Cárcel. Persecuciones religiosas y mártires del siglo XX. Madrid: Ediciones Palabra, 2001. ISBN 84-8239-522-X
§  PIERRARD, Pierre. História da Igreja. (Desclèe & Cie, Paris, 1978) tradução de Álvaro Cunha; revisão de Luiz João Gaio - São Paulo: Paulus, 1982. ISBN 85-349-0373-5
§  SOUTO MAIOR, Armando. História Geral. 17a. edição, São Paulo: Editora Nacional, 1976.
§  WOHL, Louis de. Fundada sobre a rocha, história breve da Igreja. Tradução de Teresa Jalles - Lisboa: Rei do Livros, 1993.



TEXTOBASE: ÉTICA

     A palavra ética se origina do termo grego ethos, que significa "modo de ser", "caráter", "costume", "comportamento". De fato, a ética é o estudo desses aspectos do ser humano: por um lado, procurando descobrir o que está por trás do nosso modo de ser e de agir; por outro, procurando estabelecer as maneiras mais convenientes de sermos e agirmos. Assim, pode-se dizer que a ética trata do que é "bom" e do que é "mau" para nós.
 

     Bom e mau, ou melhor, Bem e Mal, entretanto, são valores que não apresentam, para o ser humano, um caráter absoluto. Ao longo dos tempos, nas mais diversas civilizações, várias interpretações serão dadas a essas duas noções. A ética acompanha esse desenvolvimento histórico, para que isso sirva de base para uma reflexão sobre como ser ético no tempo presente. 
     Considera também como esses valores se aplicam no relacionamento interpessoal, pois a noção de um modo correto de se comportar e posicionar na vida pressupõe que isso seja feito para que cada um conviva em harmonia com os outros. A ética, portanto, trata de convivência entre seres humanos na sociedade. Num sentido mais restrito, ela se restringe às relações pessoais de cada um. Num sentido mais amplo - já que ninguém vive numa pequena comunidade isolada -, ela se relaciona com a política - da cidade, do país e do mundo. Nesse sentido, ela é possivelmente a área mais prática da filosofia. 
     Mas, antes de mais nada, qual o significado da palavra ética, em termos filosóficos? 
     O filósofo contemporâneo espanhol Fernando Savater apresenta uma resposta para essa questão em termos muito simples, num livro intitulado Ética para meu filho, da Editora Martins Fontes. Como diz o título, ele escreveu com o intuito de explicar a questão para o seu filho adolescente. A seguir, você pode ler um breve trecho da resposta de Savater para a questão "o que é ética?". Esse é um excelente ponto de partida para você pensar no assunto: 
     “Há ciências que estudamos por simples interesse de saber coisas novas; outras, para adquirir uma habilidade que nos permita fazer ou utilizar alguma coisa; a maioria, para conseguir um trabalho e ganhar a vida com ele. Se não sentirmos curiosidade nem necessidade de realizar esses estudos, poderemos prescindir deles tranqüilamente. Há uma infinidade de conhecimentos muito interessantes mas sem os quais podemos nos arranjar muito bem para viver. Eu, por exemplo, lamento muito não ter nem idéia de astrofísica ou de marcenaria, que dão tanta satisfação a outras pessoas, embora essa ignorância nunca me tenha impedido de ir sobrevivendo até hoje. E você, se não me engano, conhece as regras do futebol mas é bem fraco em beisebol. Não tem maior importância, você desfruta os campeonatos mundiais, dispensa olimpicamente a liga americana e todo o mundo sai satisfeito.
O que eu quero dizer é que certas coisas a pessoa pode aprender ou não, conforme sua vontade. Como ninguém é capaz de saber tudo, o remédio é escolher e aceitar com humildade o muito que ignoramos. É possível viver sem saber astrofísica, marcenaria, futebol e até mesmo sem saber ler e escrever: vive-se pior, decerto, mas vive- se. No entanto, há outras coisas que é preciso saber porque, por assim dizer, são fundamentais para nossa vida. E preciso saber, por exemplo, que saltar de uma varanda do sexto andar não é bom para a saúde; ou que uma dieta de pregos (perdoem-me os faquires!) e ácido prússico não nos permitirá chegar à velhice. Também não é aconselhável ignorar que, se dermos um safanão no vizinho cada vez que cruzarmos com ele, mais cedo ou mais tarde haverá conseqüências muito desagradáveis. Pequenezas desse tipo são importantes. Podemos viver de muitos modos, mas há modos que não nos deixam viver.
     Em resumo, entre todos os saberes possíveis existe pelo menos um imprescindível: o de que certas coisas nos convêm e outras não. Certos alimentos não nos convêm, assim como certos comportamentos e certas atitudes. Quero dizer, é claro, que não nos convêm se desejamos continuar vivendo. Se alguém quiser arrebentar-se o quanto antes, beber lixívia poderá ser muito adequado, ou também cercar-se do maior número possível de inimigos. Mas, de momento, vamos supor que preferimos viver, deixando de lado, por enquanto, os respeitáveis gostos do suicida. Assim, há coisas que nos convêm, e o que nos convém costumamos dizer que é “bom”, pois nos cai bem; outras, em compensação, não nos convêm, caem-nos muito mal, e o que não nos convém dizemos que é “mau”. Saber o que nos convém, ou seja, distinguir entre o bom e o mau, é um conhecimento que todos nós tentamos adquirir – todos, sem exceção – pela compensação que nos traz.
     Como afirmei antes, há coisas boas e más para a saúde: é necessário saber o que devemos comer, ou que o fogo às vezes aquece e outras vezes queima, ou ainda que a água pode matar a sede e também nos afogar. No entanto, às vezes as coisas não são tão simples: certas drogas, por exemplo, aumentam nossa energia ou produzem sensações agradáveis, mas seu abuso contínuo pode ser nocivo. Em alguns aspectos são boas, mas em outros são más: elas nos convêm e ao mesmo tempo não nos convêm. No terreno das relações humanas, essas ambigüidades ocorrem com maior freqüência ainda. A mentira é, em geral, algo mau, porque destrói a confiança na palavra – e todos nós precisamos falar para viver em sociedade – e provoca inimizade entre as pessoas; mas às vezes pode parecer útil ou benéfico mentir para obter alguma vantagem, ou até para fazer um favor a alguém. Por exemplo, é melhor dizer ao doente de câncer incurável a verdade sobre seu estado, ou deve-se enganá-lo para que ele viva suas últimas horas sem angústia? A mentira não nos convém, é má, mas às vezes parece acabar sendo boa. Procurar briga com os outros, como já dissemos, em geral é inconveniente, mas devemos consentir que violentem uma garota diante de nós sem interferir, sob pretexto de não nos metermos em confusão? Por outro lado, quem sempre diz a verdade – doa a quem doer – costuma colher a antipatia de todo o mundo; e quem interfere ao estilo Indiana Jones para salvar a garota agredida tem maior probabilidade de arrebentar a cabeça do que quem segue para casa assobiando. O que é mau às vezes parece ser mais ou menos bom e o que é bom tem, em certas ocasiões, aparência de mau. Haja confusão!
     Resumindo: ao contrário de outros seres, animados ou inanimados, nós homens podemos inventar e escolher, em parte, nossa forma de vida. Podemos optar pelo que nos parece bom, ou seja, conveniente para nós, em oposição ao que nos parece mau e inconveniente. Como podemos inventar e escolher, podemos nos enganar, o que não acontece com os castores, as abelhas e as formigas. De modo que parece prudente atentarmos bem para o que fazemos, procurando adquirir um certo saber-viver que nos permita acertar. Esse saber-viver, ou arte de viver, se você preferir, é o que se chama de ética.”


Antes de seguir adiante, porém, vale recordar o que foi dito no início deste texto: a Ética não serve de base somente às relações humanas mais próximas. Ela também trata das relações sociais dos homens, na medida em que alguns filósofos consideram a etica como a base do direito ou da justiça, isto é, das leis que regulam a convivência entre todos os membros de uma sociedade. 
O filósofo alemão Leibniz (1646-1716) considera que o direito e as leis decorrem de três preceitos morais básicos: 
  Não prejudicar ninguém; 


  Atribuir a cada um o que lhe é devido; 


  Viver honestamente. 
Ou seja, a ética orienta também o ordenamento jurídico e/ou legal das nações. Por conseguinte, orienta também a política. Quando a política não é pautada pela ética ocorrem os escândalos e os crimes que os brasileiros presenciam a cada ano nos Poderes Executivo e Legislativo do nosso país.


Texto Base : Democracia x Liberdade 
A Democracia é o sistema (regime) de organização social mais eficiente para se cultivar e se praticar a liberdade de ação e de expressão. A prática da liberdade estimula autocorreções que ajudam a acelerar o desenvolvimento de uma nação. No entanto, a Democracia não é a mãe da liberdade; é apenas uma ferramenta que bem usada facilita a preservação do estado de liberdade. E, ao contrário do que muitos brasileiros pensam, a Democracia não tem poder de evolução, ela tanto pode ajudar a prosperar como pode também ajudar a arruinar. Um povo sábio e bem informado usa a Democracia para se livrar dos vigaristas e fazer prosperar o país. Mas um povo ingênuo e mal informado, permite que os demagogos e os vigaristas controlem a Democracia e destruam o país.
O real motivo dos Estados Unidos terem sido um dos países mais bem-sucedidos do século XX, não estava fundamentado na sua Democracia, mas sim no fato de ter sido, por longo tempo, uma nação de educação genuinamente cristã, (obs: a partir dos anos 90 a educação e a cultura norte-americana se vulgarizaram a tal ponto de não mais merecerem essa qualificação).
A Democracia é, de fato, um bom instrumento de liberdade, mas não é o fator determinante. A Grécia, por exemplo, que é tida pela maioria dos historiadores como o berço da Democracia, perdeu a liberdade várias vezes no último século, resultado de invasões, de guerras civis e de regimes militares: a mais recente de 1967 a 1974. (Uma situação pior que a brasileira e que demonstra que: o simples fato de conhecer ou praticar democracia não garante a preservação do estado de liberdade). 







Pena de morte
     A pena de morte, também chamada pena capital, é uma sentença aplicada pelo poder judiciário que consiste na execução de um indivíduo condenado pelo Estado. Os criminosos condenados à pena de morte são geralmente culpados de assassinato premeditado. Mas a pena também é utilizada hoje para reprimir espionagemestuproadultériohomossexualidade e corrupção.
     A pena de morte encontra-se abolida para todos os crimes em quase todos os países da Europa e da Oceania. Na América do Norte, foi abolida no Canadá e no México e em algumas zonas dos Estados Unidos. Na América do Sul, como o Brasil, o Chile e o Peru ainda mantém a pena de morte para alguns crimes, mas estes estão completamente fora da realidade do cotidiano dos cidadãos, como, por exemplo, traição em tempos de guerra. Trinta e seis estados dos Estados Unidos, a Guatemala e a maior parte do Caribe, da Ásia e da África ainda mantêm a pena de morte para crimes comuns. O caso de alguns países (como os em laranja no mapa à direita) é bastante peculiar, pois legalmente mantêm a pena de morte mas já não executam ninguém há bastante tempo.
    A pena de morte é atualmente uma forma de punição muito controversa. Os que lhe são favoráveis dizem que é eficaz na prevenção de futuros crimes e adequada como punição para assassinatos, eliminando a ameaça que para a sociedade representa quem não respeita a vida alheia. Os opositores dizem que não é aplicada de forma eficaz e que, como consequência, são anualmente executados vários inocentes. Afirmam também que é uma violação dos direitos humanos.
     Em 18 de dezembro de 2007, a Assembleia Geral das Organização das Nações Unidas aprovou, por 104 votos a favor, 54 contra e 29 abstenções, uma moratória da pena de morte. A proposta de moratória foi formulada pela Itália e endossada inicialmente pela União Europeia. O documento adverte claramente os países que aboliram a pena de morte a não a reintroduzirem. Este fato mereceu manchetes no mundo inteiro, mas foi pouco noticiado pela mídia.


  História

Pintura de Pisanello1436 - 1438.
     A execução de criminosos e oponentes políticos tem sido usada por quase todas as sociedades, tanto para punir crimes como para suprimir oposições políticas. Na maioria dos países que a praticam, a pena de morte é reservada paraassassinatoespionagemtraição ou no âmbito do direito militar. Em alguns países, crimes sexuais como estuproadultérioincesto e sodomia levam à pena de morte, assim como crimes como apostasia (renúncia formal à religião do Estado) nas nações islâmicas. Em muitos países que aderiram à pena de morte, o tráfico de animais é também crime capital. Na China, o tráfico de pessoas e casos de corrupção grave são punidos pela pena de morte. Em exércitos de todo o mundo, ostribunais marciais têm imposto sentenças de morte para crimes como covardiadeserçãoinsubordinação e motim. Atualmente, a pena tem um enquadramento legal e sociológico bastante diferente.
     Nenhum estado-membro da União Europeia aplica a pena de morte. A Convenção Europeia dos Direitos Humanos recomenda a sua proibição.
     A maioria dos estados federados dos Estados Unidos, principalmente no Sul, retomaram esta prática após uma breve interrupção durante os anos 1970, sendo por isso os Estados Unidos uma das raras democracias, juntamente com o Japão, que continuam a aplicar a pena de morte. Em janeiro de 2008, 36 dos 50 estados dos EUA previam a aplicação da pena capital. O estado que mais recentemente a aboliu foi Nova Jérsei em 13 de dezembro de 2007.[3]
     O país que mais recentemente aboliu a pena de morte foi o Uzbequistão, em 1 de janeiro de 2008.[4]
     A pena de morte é um ato da Justiça, sujeito às regras do Direito e da Lei.
     A pena de morte distingue-se da eliminação de indivíduos
     julgados indesejáveis (deficientes físicos ou mentais, judeus e homossexuais), que foi praticada ao longo dos tempos, com especial referência para o nazismo e o Holocausto. Na realidade, a pena de morte é concebida como a punição de um crime, enquanto que a eliminação dos indesejáveis é considerada como um ato arbitrário.
     Distingue-se a pena de morte da eutanásia, pela qual se abrevia, sem dor ou sofrimento, a vida de um enfermo incurável. O fato de um policial ou outra pessoa matar um suspeito ou um criminoso, em estado de legítima defesa ou não, não constitui uma aplicação da pena de morte. O mesmo se verifica no caso de mortes causadas por operações militares.
     A pena de morte, a condenação, a sentença e a sua execução resultam da aplicação de uma lei conforme com os ritos e as regras de um processo da justiça criminal ou militar.

Brasil
     A última execução determinada pela Justiça Civil no Brasil foi a do escravo Francisco, em Pilar das Alagoas, em 28 de abril de 1876, e a última execução de um homem livre foi, provavelmente, pois não há notícias de outra depois, a de José Pereira de Sousa, condenado pelo júri de Santa Luzia, em Goiás, enforcado na dita vila no dia 30 de outubro de 1861. Até os últimos anos do império, o júri continuou a condenar à morte, ainda que, a partir desse ano de 1876, o imperador Dom Pedro II comutasse todas as sentenças capitais, tanto de homens livres como de escravos. Todavia, só foi expressamente abolida para crimes comuns após a proclamação da República. A pena de morte continuou a ser cominada para certos crimes militares em tempo de guerra.[8]
§  A Constituição do Estado Novo, de 1937, admitiu a possibilidade de se instituir, por lei, a pena de morte para outros crimes além de crimes militares em tempo de guerra.
"Artigo 122, §13: Não haverá penas corpóreas perpétuas. As penas estabelecidas ou agravadas na lei nova não se aplicam aos fatos anteriores. Além dos casos previstos na legislação militar para o tempo de guerra, a lei poderá prescrever a pena de morte para os seguintes crimes:
a) tentar submeter o território da Nação ou parte dele à soberania de Estado estrangeiro; b) tentar, com auxílio ou subsídio de Estado estrangeiro ou organização de caráter internacional, destruir a unidade da Nação, procurando desmembrar o território sujeito à sua soberania; c) tentar por meio de movimento armado o desmembramento do território nacional, desde que para reprimi-lo se torne necessário proceder a operações de guerra; d) tentar, com auxílio ou subsídio de Estado estrangeiro ou organização de caráter internacional, a mudança da ordem política ou social estabelecida na Constituição; e) tentar subverter por meios violentos a ordem política e social, com o fim de apoderar-se do Estado para o estabelecimento da ditadura de uma classe social; f) o homicídio cometido por motivo fútil e com extremos de perversidade."
     Em pleno século XX ocorreram condenações à morte no Brasil, sendo noticiada a do escritor Gerardo Mello Mourão, em 1942, alegadamente envolvido em atividades de espionagem para o Eixo, que este nega. Mas não há notícia de que tenha havido qualquer execução aplicando a pena de morte no quadro jurídico. É, no entanto, muito polémica a situação jurídica de execuções de marginais por forças policiais, militares e para-militares fora do processo legal, como por exemplo nos casos de Esquadrão da Morte.
§  Voltou a ser prevista para crimes políticos, de 1969 até 1978, durante a vigência do Ato Institucional n.º 5 (AI-5), no Regime Militar, que durou de 1964 até 1985. Alguns militantes da esquerda armada foram condenados à pena capital, mas não houve qualquer execução legal.[9].
§  Abolida para todos os crimes não-militares na constituição de 1988.
     Atualmente, é prevista para crimes militares, somente em tempo de guerra. É o único país de língua portuguesa que prevê a pena de morte na Constituição.
     O Código Penal Militar trata dos crimes que são puníveis com a morte, e determina que a pena seja executada por fuzilamento (forma considerada sem humilhação para o condenado), havendo a possibilidade, segundo o site Direito Militar, de que o presidente da República conceda graça ou comute a pena por outra.
     Dependendo de como se conta, o total de crimes sujeitos à pena capital no Brasil pode chegar a 36.